Dia de Tiradentes

Quem é o homem do feriado?

20 Abr 2010 - 01h29min

Na manhã de 218 anos atrás, o condenado à morte José da Silva Xavier percorreu as ruas do Rio de Janeiro até o local onde seria levado à forca. Mais que uma execução, era um alerta: a Monarquia não admitiria rebelados. Adiante na história, a República lhe daria melhor tratamento. Transformado em mártir da Independência, o alferes de Minas Gerais é o único personagem brasileiro cujo aniversário de morte ganha feriado nacional.

Fortaleza fecha as portas do comércio e das repartições públicas amanhã. Além do dia de folga, lembra o dentista silenciosamente durante o restante do ano. O bairro do Henrique Jorge abriga uma rua e um clube homônimos do mártir. No Centro, duas sedes do Colégio Tiradentes estampam a alcunha de José da Silva Xavier nas vias Duque de Caxias e Pedro I. Mas quem é esse homem?

``A imagem dele oscilou entre vilão do Império e herói republicano. Por 80 anos, foi um inimigo vencido, mas a proclamação da República não aconteceu nas massas. E era necessária uma figura representativa do novo regime``, explica o professor do curso de História da Universidade Federal do Ceará (UFC), João Ernani Filho.

A lista de concorrentes ia de militares a rebelados - Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, presidentes militares, foram cogitados, mas a farda os separava dos civis; Quintino Bocaiúva, jornalista e político, não era dono de ``expressividade nacional``. Já Dom Pedro I tinha o carisma, mas era português. Restavam Frei Caneca, envolvido na Revolução Pernambucana e na Confederação do Equador, e Tiradentes. Mas o religioso pegara em armas, pela revolução, para matar conterrâneos. Já a revolta de Tiradentes sequer veio a cabo, sendo delatada antes.

Assim, em 1946, o presidente Eurico Gaspar Dutra o elevou a Patrono da Polícia Militar. Por este motivo foi erguida em 1980, em frente ao Comando Geral da PM do Estado do Ceará, uma tímida estátua dele, descansada à sombra das árvores.
(Janaína Bras, especial para O POVO).