EDUCAÇÃO!!!

28 setembro 2010

VOCÊ SABE O QUE É INTERTEXTUALIDADE?

Textos "conversam" entre si

Alfredina Nery*
Para entender o que é o conceito de "intertextualidade", um exemplo divertido. O jogo do "não confunda":


  • Não confunda "bife à milanesa" com "bife ali na mesa",


  • Não confunda "conhaque de alcatrão" com "catraca de canhão",


  • Não confunda "força da opinião pública" com "opinião da força pública".

  •  Como se vê, é possível elaborar um texto novo a partir de um texto já existente. É assim que os textos "conversam" entre si. É comum encontrar ecos ou referências de um texto em outro. A essa relação se dá o nome de intertextualidade.


  • Para entender melhor a palavra, pense em sua estrutura. O sufixo inter, de origem latina, se refere à noção de relação (entre). Logo, intertextualidade é a propriedade de textos se relacionarem.




    Intertexualidade na poesia

    Veja como Chico Buarque de Holanda, um dos mais importantes compositores brasileiros, utiliza a intertextualidade em uma canção sua. Em "Bom Conselho", ele faz referências a provérbios populares.












  • Provérbios populares


    Canção de Chico Buarque

    “Uma boa noite de sono combate os males”


    “Quem espera sempre alcança”

    “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço"

    “Pense, antes de agir”

    “Devagar se vai longe”

    “Quem semeia vento, colhe tempestade”
    Bom Conselho
    Ouça um bom conselho
    Que eu lhe dou de graça
    Inútil dormir que a dor não passa
    Espere sentado
    Ou você se cansa
    Está provado, quem espera nunca alcança
    Venha, meu amigo
    Deixe esse regaço
    Brinque com meu fogo
    Venha se queimar
    Faça como eu digo
    Faça como eu faço
    Aja duas vezes antes de pensar
    Corro atrás do tempo
    Vim de não sei onde
    Devagar é que não se vai longe
    Eu semeio vento na minha cidade
    Vou pra rua e bebo a tempestade
    (Chico Buarque, 1972)








  • Chico Buarque inverte os provérbios, questionando-os e olhando-os sob outro ângulo, atribuindo-lhes novos sentidos.
    Há vários exemplos de intertextualidade na literatura. Veja, a seguir, como Ricardo Azevedo brinca com o famoso poema Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade.





    Quadrilha Quadrilha da sujeira
    João amava Teresa que amava Raimundo
    que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém.
    João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou-se com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.

    (Carlos Drummond de Andrade)
    João joga um palitinho de sorvete na
    rua de Teresa que joga uma latinha de
    refrigerante na rua de Raimundo que
    joga um saquinho plástico na rua de
    Joaquim que joga uma garrafinha
    velha na rua de Lili.
    Lili joga um pedacinho de isopor na
    rua de João que joga uma embalagenzinha
    de não sei o quê na rua de Teresa que
    joga um lencinho de papel na rua de
    Raimundo que joga uma tampinha de
    refrigerante na rua de Joaquim que joga
    um papelzinho de bala na rua de J.Pinto
    Fernandes que ainda nem tinha
    entrado na história.

    Ricardo Azevedo (”Você Diz Que Sabe Muito, Borboleta Sabe Mais”, Fundação Cargill)

    Enquanto um texto trata do amor não correspondido, por meio da comparação com uma dança (quadrilha), o outro critica o mau hábito de jogar lixo na rua - e mostra como as pessoas prejudicam as outras.

    A intertexualidade também é um recurso comumente utilizado pelas crônicas de jornal. Abaixo, veja como José Roberto Torero utiliza uma frase famosa dita por um personagem de Shakespeare. A frase quer dizer, em poucas palavras, que há muita coisa na vida que não compreendemos.






    Shakespeare Deuses do futebol: Urucubaco
    Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia

    Olímpico leitor, divinal leitora, há mais coisas entre o céu dos deuses e a terra do futebol do que sonha a nossa vã crônica esportiva.
    Determinadas situações do jogo e certas fases pelas quais os times passam não são, como pensam alguns, obra do acaso. Ao contrário, são uma manifestação da vontade de seres superiores, seres que controlam a nossa vida desde o dia em que o Caos gerou a Noite.

    (trecho de crônica de José Roberto Torero, Folha de S.Paulo, em17/9/02-pag.D3)
     FONTE: http://educacao.uol.com.br/portugues/ult1693u2.jhtm






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