Uma lei punitiva não é capaz de acabar com a punição [...]
"O homem nasce livre, e por todos os lados é posto a ferros". A frase de Rousseau, um dos líderes da Revolução Francesa, expressa um dos pilares da ideologia desta [dessa] revolução - a ânsia por liberdade. Porém, após chegar ao poder, a burguesia, que acabou com formas de opressão e de repressão da sociedade feudal, instaurou um Estado que tem seus próprios meios de repressão.Por todos os lados, o homem continua sendo "posto a ferros", e esta [essa] repressão começa já dentro de casa, na educação fornecida pela família. Em nome de "educar" os filhos, muitas vezes os pais vêm [veem] a necessidade de obrigar ou de proibir as crianças de fazerem coisas para as quais não encontram argumentos, e acabam recorrendo a medidas coercitivas - os chamados castigos, que podem ser morais ou físicos.
Embora sejam a própria sociedade e suas exigências que levam a este [esse] comportamento, hipocritamente o Estado tem um discurso contrário aos eventuais abusos cometidos pelos pais, chegando a prever em suas leis a punição para estes [esses] abusos. Na esteira da repercussão do caso Nardoni, surgiu no Brasil a polêmica proposta de lei que pode punir até mesmo palmadas que sejam dadas pelos pais em seus filhos.
Os pais ficam proibidos de punir os filhos fisicamente, e caso o façam podem ser... punidos fisicamente - com a perda de sua liberdade realizada de maneira violenta, através da prisão. Que tipo de lição pode ser tirada disto [disso]? Se é errado punir de maneira abusiva, se os pais devem conseguir outras maneiras de educar seus filhos, por que o Estado deve "educá-los" por meio da punição?
A própria proposta de uma lei como esta [Essa própria proposta de lei] revela as contradições profundas que fazem com que o problema da violência de pais contra filhos não possa ser resolvido simplesmente por uma lei. Em uma sociedade tão repressiva, que pune até mesmo a repressão com mais repressão, como um indivíduo pode ser criado livre, sem por todos os lados ser posto a ferros?
Comentário geral
A redação é boa e só não recebe a nota máxima por questões pontuais. Evidentemente, o autor tem uma série de posições que podem ser debatidas e não é necessário se concordar com ele. De qualquer modo, ele sabe expor seu ponto de vista, bem como analisar o problema de acordo com a sua visão de mundo.Aspectos pontuais
1) Primeiro parágrafo: A citação correta é "O homem nasce livre, e em toda a parte é posto a ferros". Rousseau, que morreu onze anos antes do início da Revolução Francesa, não pôde ser um de seus líderes. Quando muito, suas ideias serviram de base às ideias dos revolucionários.2) Segundo parágrafo: aqui a afirmação se baseia num argumento discutível: a de que os pais só recorrem à palmada quando não têm argumentos. Eles podem ter argumentos, mas notar suas ponderações não serem respeitadas, por exemplo. Ou seja, a questão é mais complexa do que a exposta pelo autor aqui.
3) Terceiro parágrafo: o correto seria dizer "numa lei" (a lei em questão) e não "em suas leis".
Competências avaliadas
Competência | Nota | |
---|---|---|
1. | Demonstrar domínio da norma culta da língua escrita. | 1,5 |
2. | Compreender a proposta da redação e aplicar conceito das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo. | 2,0 |
3. | Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista. | 2,0 |
4. | Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação. | 2,0 |
5. | Elaborar a proposta de solução para o problema abordado, mostrando respeito aos valores humanos e considerando a diversidade sociocultural. | 2,0 |
Total | 9,5 | FONTE: http://educacao.uol.com.br/bancoderedacoes/redacao/ult4657u772.jhtm |
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